Situado a poente do morro da Lapa e da Rua de Cervantes, este novo espaço verde com 17.000m2 procura reforçar a qualidade de vida urbana, com especial enfoque quer na valorização do espaço público, quer na estratégia de renaturalização da cidade.
Inaugurado no final de 2024 e baseado no conceito “Porto: a city designed by nature”, o Parque Dr. Mário Soares evidencia o sistema húmido como “esqueleto” de suporte à paisagem e apresenta um leque diversificado de funções ambientais.
A renaturalização da Ribeira do Vilar, que eliminou o troço entubado ao longo da Rua de Cervantes, reforça a presença da água e promove a utilização de bacias de retenção que recolhem e infiltram as águas pluviais, prevenindo assim o risco de inundações. O curso de água foi desenhado com recurso a soluções de base natural, estabilizando as margens com enrocamento e estruturas vegetais ribeirinhas. Manteve-se o leito permeável e instalaram-se micro-açudes que permitem a oxigenação da água, criando em simultâneo, pequenas charcas resultantes do represamento. A meandrização do curso de água, a gárgula sobre o manancial, os micro-açudes, a levada e o lago, permitiram a criação de vários ritmos e ambientes, potenciando o sistema húmido e a regeneração da paisagem.
Este ecossistema ribeirinho foi desenhado para ser resiliente à seca no verão e tirar partido da água nas restantes estações do ano, e todo o seu sistema húmido permite a regulação térmica do parque. Para além disso, as águas pluviais do Renaissance Porto Lapa Hotel, adjacente ao Parque, são drenadas e encaminhadas para um pequeno vale desenhado para esse efeito e que entronca a jusante no curso de água principal da Ribeira do Vilar, evidenciando a drenagem sustentável destas águas.
Ajustado o conceito do Parque ao caminho da água, vai-se tornando visível o propósito de transformação da concha natural num refúgio de biodiversidade. A criação da galeria ripícola ao longo do curso de água, com coberto vegetal e desenho marginal com inertes, permite o abrigo para a avifauna e a regeneração de habitats, contribuindo também para o sequestro de carbono e melhoria da qualidade do ar.
Este local fez parte do projeto educativo “Noites de Morcegos” de 2025, onde foi possível observar muitos indivíduos da espécie morcego-anão (Pipistrellus pipistrellus). Estes dados realçam a importância deste tipo de espaços urbanos para estes animais, que são excelentes bioindicadores pela sua sensibilidade a alterações ambientais (a sua presença indica boas condições nos ecossistemas urbanos e rurais).
Alimentada pela água da chuva e pela água da levada, o lago assume um papel crucial na regeneração da biodiversidade. O Município, em parceria com o CIIMAR, introduziu estruturas de fitodepuração no curso de água, plantas aquáticas (golfão pequeno, caniço, ceratófilo, lírio-amarelo-dos-pântanos) e anfíbios na charca permanente.
Evidenciando as vantagens do projeto em termos de mobilidade sustentável e proximidade, o Parque permite articular a estação de Metro da Lapa, a Urbanização da Bouça e a rua da Boavista, à cota baixa; com a rua de Cervantes e a rua de Alves Redol, à cota alta. Para além do percurso panorâmico, de caráter mais estruturante, que percorre o Parque no sentido norte/sul com âncoras a nascente, o espaço verde integra ainda um percurso informal, a poente do manancial de Salgueiros.
A renaturalização dos cursos de água, a aplicação de soluções de base natural em espaço público e a promoção de espaços verdes articulados com a rede de arborização, representam o fio condutor de uma visão ecossistémica da cidade.








